Capítulo 10
Henrique Lopes acabara de desligar o telefone quando, logo em seguida, recebeu uma mensagem no WhatsApp de Tamires Martins.
Tamires Martins: “Peça à tia para não se preocupar em preparar jantar para mim hoje, vou comer fora com uns amigos.”
Henrique Lopes olhava fixamente para a tela do celular, onde o wallpaper de Tamires Martins era de um gato malhado de pelo curto, um presente que ela recebeu de Professora Núbia no seu aniversário de dez anos.
Professora Núbia, que é mãe de Tamires Martins, era sua professora de artes.
Tamires Martins não conhecia bem Pelotas, apesar de já estar na cidade há quase um mês. Não teve tempo nem disposição para explorar o lugar, e estava com o orçamento apertado.
Foi Belmiro Domingos quem encontrou um restaurante. Ao entrar, ele tirou o casaco e o pendurou no encosto da cadeira, começando a fumar. Depois de um tempo, perguntou: “Qual é a ideia? É sério isso?”
Tamires Martins, que não tinha tirado o casaco, mantinha–se ereta, com o olhar baixo, e assentiu sem hesitar.
Ele não compreendia: “Por causa de uma brincadeira?”
Tamires Martins disse: “Não é uma brincadeira.”
“Você está levando muito a sério, eu estava apenas brincando com os amigos. Na última vez que meus pais e o seu pai jantaram juntos, não falaram que depois da sua formatura nós iríamos nos noivar?”
Tamires Martins levantou os olhos, olhando–o fixamente, e disse: “Eu não quero me casar com você.”
“Tamires Martins, vamos parar com isso, tá? Você quer que os outros riam de nós?”
Belmiro Domingos sempre achou que Tamires Martins era de fácil convivência, tão dócil que chegava a ser sem graça.
Por isso, às vezes a negligenciava, nem sequer acreditava que ela estivesse falando sério sobre o término, pensando que era apenas um capricho para chamar sua atenção.
Ele pensou que, ignorando–a por um tempo, ela acabaria cedendo. Mas ela passou meses sem procurá–lo, foi diretamente para Pelotas e até o bloqueou. Ele teve que falar com o amigo dela, Natanael, para conseguir contato.
Tamires Martins falava sério: “Não tenho tempo para jogos, Belmiro Domingos, estou sendo clara.”
1/3
Belmiro Domingos, com o cigarro tremendo de raiva, sempre teve interesse nela apenas por causa da ligação de seus pais com a família Lopes.
Tamires Martins levantou–se: “Não me procure mais.” E estava prestes a sair.
Belmiro Domingos a seguiu rapidamente. Não tinha andado muito quando Tamires Martins foi puxada pelo braço, trazida de volta com força. Homens têm naturalmente mais força fisica que as mulheres, e ele estava furioso, então não foi delicado.
O braço de Tamires Martins doía como se estivesse sendo rasgado. As outras pessoas no restaurante olhavam, mas ninguém parecia disposto a intervir.
Belmiro Domingos então agarrou seu pulso, que era tão fino que parecia que poderia quebrá–lo facilmente. Ele largou o cigarro e estava prestes a falar, mas ela se debatia e a ponta acesa do cigarro queimou o dorso de sua mão. Ela inalou uma lufada de ar frio de dor, mas não gritou.
Sua pele, já clara, ficou visivelmente vermelha.
Belmiro Domingos não percebeu, pensando que a tinha machucado por apertar demais. Ele jogou fora o cigarro inconveniente e, com um tom raro de conciliação, disse: “Para de brigar, tá bem? Você está chateada porque eu não tenho te dado atenção, posso mudar, está bem?”
Belmiro Domingos suavizou sua postura: “Sei que o estágio no hospital tem sido difícil para você. Que tal? Eu fico em Pelotas por alguns dias, a gente conversa direito, e você me dá uma resposta depois de pensar com calma.”
Tamires Martins parecia hesitar, mas ao ver a determinação dele, apenas concordou com um
aceno.
Voltando a sentar–se para jantar, Tamires Martins não tinha apetite algum, mas Belmiro Domingos continuava tentando puxar conversa com ela, evitando a todo custo tocar no assunto do término.
Foi nesse momento que o celular de Tamires Martins tocou, era uma ligação de Henrique Lopes.
Belmiro Domingos olhou para ela: “De quem é a ligação?”
“É ̧.. da minha família.”
“Vá atender.”
“Vou atender lá fora, está muito barulhento aqui.”
Tamires Martins saiu para atender, sentindo o coração acelerar sem motivo: “Alô…”
A voz de Henrique Lopes era profunda e envolvente: “Quanto tempo vai demorar? Eu vou buscar
você.”
“Não precisa, tio.” A voz de Tamires Martins estava tensa, inexplicavelmente culpada.
“Me envie o endereço.” Henrique Lopes ignorou sua recusa, com um tom que não admitia discussão.
2/13
27.42
Capitulo 10
Só de ouvir sua voz, Tamires Martins sentia como se tivesse uma pedra pesando em seu peito: “Eu vou voltar logo, não precisa vir me buscar, estamos jantando perto do hospital, é bem perto.”
Henrique Lopes repetiu: “Nome do restaurante.”
Tamires Martins mordeu o lábio: “Não reparei, meu celular está sem bateria, tio, eu vou desligar agora.”
Ela se apressou em encontrar uma desculpa para desligar o telefone, sentindo–se extremamente nervosa.
3/3